Resenha: “Multilinguismo do Sul para a descolonização Sociolinguística da África”

 

RESENHA

“Multilinguismo do Sul para a descolonização Sociolinguística da África”

 

Southern Multilingualisms: Toward Decolonizing the Sociolinguistics of Africa. Conferência apresentada por Sinfree Makoni [s.l., s.n], 2020. 1 vídeo (50min:29s). Publicado pelo canal da Associação Brasileira de Linguística Aplicada. Disponível em:  <https://www.youtube.com/watch?v=QKVZN1ScxQE>. Acesso em: 05 nov. 2020.

 

Resenhado por: Francisco Jonathan Melo de Sousa e Fernanda Brenda de Sousa Almeida.

 

Neste texto, resenhamos a conferência intitulada Southern Multilingualisms: Toward Decolonizing the Sociolinguistics of Africa, ministrada por Sinfree Makoni, que ocorreu em 30 de junho de 2020, como parte das atividades do evento Abralin ao vivo – linguists online. Makoni discorre sobre o papel das comunidades na configuração de modos coletivos de usos linguísticos, compartilhamento e legitimação de suas práticas, enfatizando a origem do multilinguismo que ocorre na África e propondo uma Sociolinguística Descolonial.

Makoni fala sobre as epistemologias, ontologias da linguagem e multilinguismo, sua definição para a comunidade linguística, citando que há tendências emergentes que tratam do tema, mas que nenhuma delas aborda as epistemologias e ontologias indígenas da linguagem tão necessárias para uma análise mais precisa. Nesse viés, o foco da palestra, aqui resenhada, é precisamente a noção subjacente de multilinguismo do Sul, recorrendo aos conjuntos de epistemologias do Sul e ontologias indígenas, que resistem a uma realidade onde comunidades como essas não são valorizadas e reconhecidas.

O palestrante ressalta que a cultura ocidental é baseada em segregação, na separação das línguas, e na valorização de uma linguagem formal. Para entender o multilinguismo que ocorre na África é preciso compreendê-lo como uma combinação de línguas europeias e africanas, produto do colonialismo, e que isso força inadvertidamente a impressão de que o multilinguismo que inclui línguas europeias e africanas, é mais importante do que o composto unicamente por línguas africanas.

Nesse sentido, Makoni propõe uma Sociolinguística Descolonial que critica a tradição da língua ocidental e suas fundamentações etnocêntricas, afirmando que a integração da linguística vai resistir a esse etnocentrismo, buscando entender gramáticas e dicionários como instrumentos da metalinguística, examinando o seu funcionamento, a cultura ou propósito ao qual eles servem e o conceito metalinguístico que eles empregam e promovem.

Além disso, o Multilinguismo está ligado ao processo de imigração que ocorre no mundo, portanto, tem relação com as ações do homem e suas escolhas, que refletem sua maneira de se comunicar. Nessa perspectiva, Makoni discute sobre como o homem modifica seu modo de falar de acordo com o contexto em que está inserido, além de lidar com as diferenças locais, regionais e até nacionais de sua língua, entre outras.

Isso exige que o homem saiba lidar com todas essas referências culturais tão diversas. Assim, o problema não está na questão da comunicação, pois o homem é capaz de se adaptar, mas está na situação que lhes é imposta. Dessa maneira, Makoni defende que o multilinguismo está na relação entre a língua e o sujeito, associado à classe social.